segunda-feira, 3 de maio de 2010

Postado por Graziela Lara às 7:47 PM


Inversão de valores:
 
Vida de pai está cada vez mais difícil. Uma simples conversa com o filho pequeno pode gerar perplexidade. O diálogo de João Pedro com seu filho Wilkson, de 10 anos, pode servir como prova desse fosso entre as gerações.

          - Que você vai ser quando crescer, filho?


          - Presidente da República, pai.

     
    - Puxa, filho, que legal. Mas por quê?

          - Pra não precisar estudar.

          - Não, filho, não é bem assim. Precisa estudar muito.


          - Então quero ser vice-presidente.

          - Vice, filho? Por quê?


          - Pra não precisar estudar. O José de Alencar também só foi até a quinta série primária. Já posso parar.

       
  - Não é assim, filho. Ele trabalhou muito e aprendeu.

          - Pai, todo mundo que se dá bem não estudou: o presidente, o vice, a Xuxa, o Kaká, o Zeca Pagodinho...

          - É que eles têm um talento...


          - Ah, entendi, estudar é para quem não tem talento?

       
  - Não, filho, pelo amor de Deus. Artista é diferente.

          - O presidente e o vice não são artistas.

          - Não, quer dizer, o presidente, de certo modo, até é.


          - Se eu estudar, vou ganhar mais do que o Kaká?

   
      - Menos.

          - Ah, é? Então quero ir já para a escolinha.

         
- Você já está numa boa escola, filho.

          - Quero ir pra escolinha de futebol.


          - Não, filho, você precisa estudar muito. A escola abre caminhos para as pessoas. Pode-se viver dignamente.


          - Acho que vou querer ser corrupto.

          - Meu Deus, filho, não diga isso nem de brincadeira.


          - Na TV disseram que ninguém se dá mal por causa da corrupção e que tudo sempre termina em pizza. Adoro pizza. Quando for corrupto, pedirei só de quatro queijos.

          - Ser corrupto é muito feio, meu filho.


          - Ué, pai, se é feio assim, por que Brasília está cheia deles e quase todos conseguem ser reeleitos?

          - É complicado de explicar, Wilk. Mas isso vai mudar.


          - Quero ser corrupto e praticar nepotismo.

         
- Cale a boca, filho, de onde tira essas barbaridades?

          - É só olhar televisão, pai. O Sarney pratica nepotismo e é presidente do Senado. Ninguém pode mexer com ele.

          - Mas você sabe o que é nepotismo, filho?


          - Sei. É empregar os parentes da gente.

          - E você quer fazer isso?


          - Claro. Assim ia acabar com os vagabundos da família.

         
- Filho, você precisa ter bons valores. Pense numa profissão, numa coisa honesta e que seja respeitada. Não quer ser médico, dentista ou, sei lá, engenheiro?

          - Não. De jeito nenhum. To fora, pai!

         
- Mas por que, filho?

          - Eles nunca vão ao Faustão.

          - Isso não tem importância, filho. Que tal bombeiro?


          - Vou querer ser astronauta ou jornalista.

          - Hummm... Jornalista? Por que mesmo, filho?


          - Não precisa mais ter diploma pra ser jornalista.






 

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